quarta-feira, 14 de julho de 2010

O mar quando quebra na praia

Sabe,
eu preciso falar
É que eu gostaria muito
de ser muito amada
de ser uma Jorge Amada
uma tão amada
que eu me espraiasse
de uma preguiça serena
de quem balança
na varanda de uma rede
sentindo um revoar
macio de saudade de seda
de uma luz que dança
no panejar da palmeira
e da onda que chega
sem compromisso de pressa
nem escassez de espuma
Para isso então
tento transformar uma gota
uma só gota
em um oceano inteiro
um mar sem fim
um pescador de mar
enfim...
é muito bonito o mar
quando quebra na praia

Rita

Poesia



Poesia é corpo.
É experimentação. É natureza.
Às vezes flutuo
Sinto meus pés no ar
E me espalho como nuvem rala.
Outras vezes, fico densa.
Sou concreta como a pedra imensa.
Ou como um seixo que rola ao sabor das marés.
E mais outras, ainda, sinto-me como água.
Líquida.
Fluída.
E desejo a palavra apenas para obter uma forma.
A poesia me preenche e também me esculpe.
A poesia, para mim, é.
Simplesmente.


Rita

confiança


Confiança.

Estou aqui. Esperando para me dirigir ao hospital. Vou ser submetida a uma cirurgia.
Na verdade, estou apavorada por tudo que uma cirurgia implica. Corte, dor, desconforto.
Sou como a nau portuguesa de Fernando Pessoa em seu “Mar Português”.

“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”

Estou tentando passar pelo Bojador e imaginar que vai valer a pena.
Tudo é tão grande... por ser desconhecido.
Mais uma vez me torno líquida.
Mais uma vez fluo neste fluxo que, ora me empurra e ora me puxa.
Para abrir “push”, para fechar “pull”, dizem as portas quando quero passar.
Abrir e fechar portas.
Entregar-se e recolher.Sempre pulsar e nunca trancar.
Azeitar as chaves para que girem no tambor.
Permitir-se o passar por uma passagem, mesmo que seja estreita. Só pra mudar de território, de paisagem e geografia.
Eu só quero mesmo é chegar sem me perder, sem naufragar e nem sucumbir.
E vamos à aventura.
Ao mar.

Rita

terça-feira, 13 de julho de 2010

Sensação de calores.
Muitos calores.
Esquento e esfrio sem parar.
Quem está soprando esta brasa?
Inicialmente tentei conter o calor.
Hoje já são 10 dias que este abrasamento começou.
Lembrei-me de deixar o calor chegar.
Deixá-lo chegar com tudo.
Deixá-lo chegar e também deixar ir embora.
Lembrei-me também que assim devo proceder com as contrariedades que vão chegando no meu dia a dia.
Deixar que venha e depois deixar ir embora.
Não oferecer resistência.
Apenas deixar fluir.

Rita
A espera de um milagre é como esperar por uma lágrima que regue, ao mesmo tempo, a virtude e o pecado.



Rita