sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Renovar


E mais uma vez chegamos ao momento em que se dá o arremate do ponto.É bom fechar um ciclo para se dar início ao próximo.

Há um sentido nisto tudo. Uma chance para reinventar hábitos, sonhos e caminhos.

Pra tudo o que vivemos podemos atribuir um sentido, um significado. Eu quero dar para esta passagem de ano o sentido da renovação. Começar o ano e dar um passo em direção a um novo horizonte.

Desejo deixar certas coisas para trás e empenhar-me em alcançar aquilo que acredito ser o melhor. Renovo meus votos por um mundo mais justo, mais harmonioso e mais humano.

Entre os meus novos hábitos gostaria, sinceramente de poluir menos e sorrir mais.

Gostaria de inserir um filtro eficiente no meu coração para que ele não fosse atingido por idéias nefastas e de baixo astral. Quero acreditar naquilo que eu sonho.

Gostaria também que a paz irradiasse do mais íntimo do meu ser e pudesse espalhar-se ao meu redor, por onde eu andar.

Gostaria, enfim, de sentir a fé necessária para confiar nas pessoas que convivem comigo.

E como não dá pra ser feliz sozinho, convido a todos para que tenham coragem de sobra para a realização de seus sonhos e ideais.

Seja bem-vindo o ano de 2010.

Um grande beijo,
da Rita

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

linda poesia do poeta português Eugênio Andrade

Urgentemente

É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

Eugênio de Andrade

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

urgente


Sinto-me.

Escolho a sintaxe.

É tudo urgente.

Como se toda a corrente

sanguínea fluísse

em direção à pele.

É muito urgente.

Conto segundos.

E esta pressão contra

as paredes da pele

me põe em alerta.

É urgente.

Uma sirene

lembra que o estado

é de emergência.

O sangue se esvai

e a alma,ah! a alma,

esta se arrebenta.

Rita

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

estamos aqui




estamos aqui
de perna pro ar
e cabeça na mais alta nuvem
que beija o pico do pico
esperando
o passageiro do trem
chegar ao sol raiar
empunhando uma bandeira
pra enfeitar a minha vila
que tem telhados e caminhos
tem copas de árvores
e ninhos de passarinhos
e no passeio da fumaça
no desenho cheio de graça
sinto despertar as cores do cio
é capaz que hoje eu me deite
no teu colo macio




rita

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

fazer nada


fazer nada é

namorar a árvore que encontrei no caminho

ouvir o cantar do passarinho

assoviar bem de mansinho

olhar os pingos que escorrem na vidraça

beirar a água estando descalça

sentir chegar a chuva e, então, louvá-la

observar formigas em sua jornada

cheirar a flor e dar uma risada

colocar conchas num balde de praia

balançar a rede na preguiça de uma tarde

ficar de pijama sem fazer alarde

contar estórias que não são de verdade

acompanhar o voar das borboletas

abrir e fechar caixinhas e gavetas

passear de carona em uma lambreta

conversar com as ondas do mar

esperar a estrela cadente passar

dizer eu te amo, assim, sem pensar.






rita

sábado, 24 de outubro de 2009

Esta frase é de G.Rosa: (in Primeiras Estórias, Benfazeja)

"O entressentir-se entre as pessoas, vem de regra com exageros, erro, e retardo."

Guimarães Rosa

Azul


Azul que me surpreende agora
Trazendo um perfume doce de aurora

Azul que profana meu delírio neste instante
Tornando meu corpo do teu distante

Azul que se revela na brisa deste momento
Levando toda a certeza de um pensamento

Azul que insiste em dilatar o presente
Marcando penitências de um coração que sente

Azul que me estanca no quê de um segundo
Liberando sonhos que não são deste mundo

Azul que me leva em deleite ao desafio
Deslizando lágrimas a correr como rio

Rita

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

ciranda


E neste móbile lunar
conto luas.
Luas em ciranda.
Uma pequena dança
para celebrar este presente,
a sua poesia,
que releva o que passou
e benvinda o que virá!


rita

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

João Cabral de Melo Neto

O artista inconfessável


Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre o fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.

video/sobre/joão/cabral

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Há aquelas
que aguardam
um príncipe
que as salvem
do dragão.
Quanto a mim,
aguardo
um dragão
que me salve
do príncipe.
rita

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

sem ser


dia besta
vida besta
sem sentido
silêncio
tem dia que nem o eco se apresenta
até a sombra não se alonga
onde é que termina
onde é que começa
o daqui a pouco do nada
a vontade de nem chegar
nem partir
queria rir de bobeira
chorar sem razão
chupar um limão com sal
pra provar o que espreme
e o que é que geme
deitar no chão
e esquecer de ser

rita

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Mas é a cara
que mascara
o coração.
A mais cara
máscara
é de ocasião.
Mascar a goma
ou cair em tentação?
Vou mais é cantar
para a trouxa
não vir ao chão.

rita

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Receita de Arroz


Para cozinhar é preciso muita intuição.
Porque às vezes a receita surge na hora que a gente tá fazendo.
É como um fluxo.
A gente vai fazendo e sabendo, sabendo e fazendo.
Use tuas mãos, teus ouvidos, teu olfato, teus olhos e paladar.
Quer dizer, todos os sentidos.
Para fazer arroz à moda da casa é o seguinte:
Lave o arroz e deixe escorrer.
Quando estiver escorridinho, pegue a panela.
Coloque óleo, deixe esquentar um pouco.
Junte cebola picada, ou alho, ou não coloque nada, só óleo mesmo.
Se colocar cebola, deixe que ela fique dourada.
Se for alho, ele fica também douradinho.
Depois, despeje o arroz e deixe fritar, mexendo com uma colher.
A hora que começar a estalar um pouquinho, quando já está querendo grudar no fundo da panela, coloque o sal e coloque a água.
Pode ser fria.
Se for arroz branco, a água deve ficar dois dedos acima do nível do arroz, se for arroz integral tem que chegar a 3 dedos e meio a quatro.
Pode medir com o cabo da colher.
Quando a água estiver fervendo, abaixe o fogo e tampe a panela.
Não tampe tudo.
Deixe uma fresta para sair o vapor.
A hora que a água secar, vai fazer um barulho de estaladinho, desligue e tampe a panela.
Meio complicado esse meu arroz?
O mais importante é fazer com muito amor.
Porque sentimento e humor são verdadeiros temperos na arte culinária.
rita


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

caju

perfume de cores vivas
amarelavermelhadas
gostosamente doce
delicadamente cheiroso
haste em forma de lua
bendito seja o fruto
mordida seja a fruta

Rita/09

domingo, 13 de setembro de 2009


vai,
chama a tua poesia
que te faz viver o que sonhas.
vem,
traga-me
um pedacinho de vida,
página de uma estória
que estaremos a contar.
chegaremos lá,
pra lá do pra lá,
cumprindo a travessia
como um arco
que apenas promete
o "estar vivo".



Rita

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Como andar no vazio


Para andar no vazio
Há que se perder as preferências
E algumas referências

O pé deve estar solto
Pisando um planeta quase redondo
Onde tudo gira em volta do olho

Onde o nada é apenas nada
E a qualquer tempo
Bebo um copo de limonada

No vazio não há compartimentos
E a distância
Ignora sua importância

A volta e a ida
Confundem-se com a chegada
E com a partida

Quanto à amplitude
Perceba só
Tudo é uma questão de atitude

Não conte com o tempo
Nem com espaço
Pois denso é apenas o abraço

No vazio a dimensão é plena
Algo como as penas
Da índia Jurema

E assim eu ficaria por horas a fio
Num eterno relatar
Do tudo o que é o vazio

A tarefa do vazio é interminável
Pois se trata de uma dimensão
Onde o fim não é viável...

Rita

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

oração


Oração à Maria pela benção da palavra

Quisera dizer palavras que apaziguassem o coração. E que também serenassem os sentidos.
Palavras que, ao tocarem a alma, pudessem suavizar os pensamentos.
Quisera dizer uma só palavra que despertasse a alegria e que esta alegria pudesse propagar-se como o desabrochar de uma flor que se mostra para o esplendor da vida.
Quisera eu mesma desabrochar-me, concebendo, gerando e deixando vir à tona o amor.
E se palavras são como a seiva da vida, quisera eu sempre evocá-las para que louvassem a ternura do acolhimento, assim como o aconchego de uma mãe quando abraça o filho.
Quisera bendizer a todo instante para que a palavra semeasse o alimento que é preciso para percorrer a grande estrada.
Que possa a palavra, abrir-se em asas e conduzir-me na mais linda aventura, aonde reine a paz, a alegria e o amor.
Assim seja!
Rita Brant
23.08.09

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Fernando Pessoa


Este poema de Fernando Pessoa me acompanha e me inspira há muito tempo. É como se fosse uma oração. E eu não me canso em repetí-lo.

Uns com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem; outros fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se

Por que tão longe ir por o que está perto –
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este é o momento, isto
É o que somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Homenagem a Gabriel Buchman

esta foto foi tirada por um amigo do Gabriel, João Tajara, na fronteira entre Nepal e Índia


Canção Da América

Composição: Fernando Brant e Milton Nascimento

Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir
Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração
Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.

sábado, 8 de agosto de 2009

ser pai


Daí que eu queria saber
Ser pai - quando começa?
Começa com a letra maiúscula?
E como é que faz
Para ser pai e sentir paz?
Ser pai é uma patente
Ou é o princípio da gente?
Com quantos paus se faz um pai?
O pai é o ímpar que virou meu par.
É aquele que amo bem devagar.
Sem ele não dá pra imaginar.
Pai é pai e não dá pra variar.
Pai é pão ou é campeão?
Quando crescer eu quero ser pai.
Pai de todos, até de quem fura-bolo.
Abraço de pai é bom.
Ternura de pai é a mais linda figura.
Pai de terno, pai de chinelo e bermuda.
Pai amado e por todos estimados.
Quando chega em casa,
Gosta de ver tudo arrumado.
Pai é bom quando fala macio.
Mas quando é preciso não manda aviso.
Corre, corre que o pai tá zangado,
Pai não gosta de nada virado.
Pai, na estrada, dirige com cuidado.
Pai dá conselho sem esperar pelo obrigado.
Pai é o máximo, é o primeiro da fila,
É insuperável, um verdadeiro hiper-super.
Um supimpa e bom de papo.
O ombro amigo e a mão aberta,
Aparece sempre na hora certa.
E como estaria eu agora aqui a dizer
Se não fosse este trabalho bem feito,
Vamos dizer quase perfeito,
Que meu pai um dia fez:
Botou alguém no mundo
Só pra ser pai outra vez.

Homenagem da Rita aos pais,

inclusive aquele que também sou
em algumas ocasiões.
agosto/09

terça-feira, 28 de julho de 2009

Suspeito
que certos sussurros
deixem no ar
um rastrear de suspiros
que por sua vez
provocam uma sucessão
de acontecimentos
que suspendem
por segundos
as configurações usuais
e sugerem que
, sobressaltos à parte,
vista-se a camisa

ou se acabe por
tirá-la de vez.


Rita B.

domingo, 12 de julho de 2009

Tenho Sonhos

Tenho sonhos:
gostaria
que fossem eles,
os habitantes destes
sonh
os,
especiais,
cheios de amor,
humor,
cheios de vida,
rebentando
quais brotos
tenros
que despertam
atentos
para ser
a cada segundo.
E que me sorrissem
num assentimento
de quem acolhe,
aceita
e partilha.


Rita B.

frases de José Pacheco

"Quem vive em desajuste entre intenção e gesto, transforma-se em sombra."

"Há cursos para tudo: para engenheiro, para canalizador, para médico, para astronauta… Só não há curso para ser pai e mãe, que é a missão mais provável que um ser humano pode desempenhar."

"...o saber vai a par com o saber ser, vai a par com o desenvolvimento emocional, o afectivo, o moral, o sensível, o estético, o ético… "

"A princípio, não foi nada, mesmo nada fácil convencer a criançada de que só se ama o que se conhece e que quanto mais se conhece mais se ama."

"- Marcos, nunca percas o sentido lúdico da vida. É o modo mais sério de estar vivo. Deixar de brincar é pecado mortal, a perda do sentido do existir. Sempre que as acções dos homens não façam sentido algum, brinca. Brinca! Quando a cupidez humana pretender transformar os teus sonhos em pesadelos, brinca, sê corajoso. "
"A poesia consubstancia-se na palavra escrita, mas não só – inscreve-se no mais íntimo acto de um educador.

"Pois nem só de palavras vive a poesia. Também é feita da sabedoria dos silêncios. Sobre eles se constrói, tal como a música. E como dói encontrar adultos que não sabem que só a poesia é real!..."

sexta-feira, 10 de julho de 2009

o que eu sinto por você


vou dizer que o que eu sinto por você
é distinto como um vinho tinto
é do tamanho de um jogo ganho
é bonito como o fruto bendito
é tão valoroso quanto um cão corajoso
é muito delicado e parece desdobrado
é insistente igual a chuva intermitente
é um tesouro que brilha mais que o ouro
é pra valer pois não quero nunca te perder
é de lei e contigo sempre estarei
é demais e não aceita qualquer aliás
é verdadeiro como um leal companheiro
o que eu sinto por você
é insuperável, incrível e notável
e por mais que eu diga
parece que nunca termina
pois por mais que eu diga
parece que é infinito
o que eu sinto por você

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Tudo em mim se represa
Acumula-se o tudo em mim
Sonho ser um jorro
E fluir qual água despejada
Jogada no fora de si
Lançada sobre um veio
Num passeio que corre
Sem fim...

terça-feira, 30 de junho de 2009

senha


Foi caso de senha perdida
Não dava para entrar
A passagem era impossível
Dois olhos se olhando
Sem poder
Tocar

quarta-feira, 24 de junho de 2009


Viva


São


João!

pequena

Se porventura
Eu fosse
Tão pequena
Que não pudesses
Me ver
Cintilaria
No reflexo
Que no teu olho
Brilha
Ou, então,
Me ocultaria
No meio
Do fluxo
De uma
Grande
Maré

domingo, 7 de junho de 2009

A maior prova de que o real não existe é a capacidade da mente de aproximar as impressões coladas na memória e no momento seguinte distanciá-las a perder de vista.

Movimento


Observa a cauda que se abre
diante o reflexo deslumbrado.

Uma ilusão declarada daquilo
que não se agarra e se apaga no ar.

A manteiga enobrece o pão,
a vaidade entorpece o chão.

O que são vinte passos para a visão?

Desapareço na distância deste evento.
Viro um ponto na escuridão.

quarta-feira, 3 de junho de 2009


Hoje acordei pensando
nas brechas.


É por aí que
quero passar.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Martina 21 em 2009

Minha filha Martina,
O que eu tenho para te falar é que quando digo que tenho filhos, sinto algo de grande intensidade dentro de mim.
Cada um dos meus filhos é uma verdadeira jóia de valor inestimável.
Hoje é dia de seus 21 anos.
02 de junho é um dia que me traz à memória um momento muito especial da minha vida.
Então quero te dizer que hoje celebramos juntas, você o dia da chegada a esta vida e eu o dia glorioso em que você nasceu.
Trazer ao mundo um filho é uma graça extraordinária. É um presente, uma permissão, uma benção divina. Um ato de prestígio à natureza que nos foi dada.
Não sei se nestes 21 anos consegui expressar todo o carinho que sinto por você. Muitas vezes, no afã de ser uma mãe esmerada, dediquei mais tempo te orientando do que te acariciando.
Na verdade, desejei muito que não te faltasse a necessária fibra para enfrentar a vida.
Mas foi entre a cobrança e o carinho que procurei te educar.
Pelo resultado, vejo que não errei na medida. Você é uma pessoa admirável e está pronta para seguir teu caminho.
Quero celebrar, Martina, este nosso caminhar. Tem sido uma bela aventura esse nosso viver como mãe e filha.
Que seus caminhos estejam abertos pela vida afora.
Que a força, a alegria e a fé sejam teus guias.
Beijos repletos de carinho de sua mãe,
Rita 02/06/2009

o olho do poeta


Vou dizer que fomos dotados dos sentidos todos só pra poder se comunicar.
O ser humano não se alimenta simplesmente, ele se comunica com o alimento.
Não vejo o que eu olho simplesmente, comunico-me através do meu olhar.
E daí vai que o poeta não é simplesmente aquele que ordena palavras, mas, sim, aquele que traduz aquilo que percebe em poesia. É um jeito de se comunicar com o em torno.
E, quando se estabelece esta ponte que comunica dois universos distintos, a sensação é de puro êxtase.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

derrete o que verte
em lágrima clara
a borda do olho
é a barca na água

centelha lavada
espelho da alma
o peito valente
não vale mais nada

viaja a memória
no olho que chora
o orvalho da folha
viver não demora

terça-feira, 19 de maio de 2009

especial pra você


sabe lá o que vento traz
sabe lá o que ele leva
de tudo sei que tenho
em derredor
uma brisa de alegria
uma ternura em tom maior
um afeto, assim, meio sem jeito
que se esconde em alguns trejeitos
mas, se nem tanto revelados
são agora declamados
só pra dizer que te quero bem
e espero de modo sincero
que o vento te traga bom tempo
e um bom pedaço de sorte também

sexta-feira, 15 de maio de 2009

o pincel e a espada


o pincel pousa
na pausa de um instante
em preto e branco

..................................
o olho na busca
o olhar só vê e encontra
o que não ofusca
................................
tudo silêncio
o deslizar tranquilo
de algumas folhas
................................
a água desmancha
o escuro é suave
na mancha sobre o papel
.................................
o claro e o escuro
de encontro ao muro
um abraço abre espaço
.................................
alegre harmonia
céu profundo e luz do dia
visão celestial

quinta-feira, 14 de maio de 2009


Ritualizar os movimentos.
Chegar e partir.
Ir e retornar.
O círculo é inseparável
enquanto houver vida.
Assim, não se perece,
mas se permanece
em um eterno soprar.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

flutuando

Veja como tudo flutua
E o ar se expande
E o sol se espalha
E a água derrama

E a terra te acolhe

coragem

nem na areia


nem no mar

na margem

coragem

é apenas um

coração

que age

domingo, 10 de maio de 2009


Sentindo que seria
Um momento de humor
Instável e bastante variável
Aquietou-se

Para que fossem apaziguados
Os possíveis impasses
Que poderiam vir à tona
Sorriu

Deixou passar
Aquele vento que sopra
Rasteiro na altura dos pés
Mas é capaz de gelar os entremeios

Nada como saber arrematar
O viés de certos encontros

para minha mãe

Para minha mãe
De todo coração
Digo que me sinto
Inteiramente
Coberta pelo seu amor
Desperta pela sua atenção
Aconchegada pelo seu carinho
Viva pela sua graça
E plena de suas bênçãos
Um beijo de amor
De sua filha
Rita

sábado, 9 de maio de 2009

Conversa


Quando vierem as flores
Vai ser tempo de voar

Vou ajustar ponteiros
Vou cuidar do jardim

Agora tá tudo bem quietinho
Pena que nem deu pra despedir

Parece que tava aterrissando
O ser humano no ser humano

Em qualquer longitude ou latitude
Vamos de cabeça

Bom é quando o fogo é puro
É muito bom fogo e terra

Pensei em você
Achei que você ia dar sinal

Parece que a distância aumentou
Você mudou de lugar?

Tá fazendo muito frio por aqui
Bem que eu tava sentindo uma mudança

Dá pra nadar?
Quero ir para praia

Viver o presente
Já é muito

quinta-feira, 7 de maio de 2009

No passar
Ir passando
O ano
Em que estou
O que resta
É dizer
Que viver
É colher
De colher
Olhares
De lugares
Sem iguais
Pelos quais
Vou passando
Com passos
Cada vez
Mais... exatos
São sete
Vezes sete
Hoje o dia
É de confete

Rita
07.05

terça-feira, 21 de abril de 2009



Todo tímido
É tido por contido
Contudo, mesmo
Temente de tanto ser
Tem no gesto miúdo
Um jeito de o todo ser

Ossos feitos de luz
Onde repousam músculos
Maiúsculos e minúsculos
Que gostam da forma
E estão à frente de mim
Sujeitos a eventuais e inevitáveis
Descargas elétricas de intenções
Maiúsculas ou minúsculas
Sempre inefáveis
E passíveis de variáveis
Que resultam em padrões
De efeito nem sempre desejáveis

... e viva os puros de coração

para esses o paraíso

já é

inspiração e suspiros

graça e devaneio.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

desenhando o território

Deslizo em conceitos
Sobre o deslize
De meios e entremeios
Deslizo em conceitos
Que são meios
E permitem
O deslizar
Em camadas
Dobradas
Fisgadas
Nas entradas
Saídas
E no meio
Do nada

Rita

quarta-feira, 25 de março de 2009


Se eu dançasse agora
Colocaria meus pés a meia altura do chão
Balançaria meus braços numa demonstração louca de quem imita os pássaros
Giraria em círculos como a biruta que saboreia os ventos
Torceria meu tronco como se ondulasse em mim um vivo arame flexível
Juntaria minhas mãos em prece e, sem a menor pressa, as levaria a apontar mil e uma estrelas
Mostraria meus seios, sem receio, para revelar meu desejo de refletir-me em luas
Viraria a cabeça para perceber de quantos ângulos se compõe o mosaico do mundo
Agitaria minhas ancas num variado frenesi alimentado por moléculas alegres
Lançaria-me inteira na beira de minha própria eira que se dobra neste agora
rita/09

terça-feira, 10 de março de 2009

Vale ver a orla verde
Que descansa meus olhos
E faz longe meu sentido
E repousa o que percebo

De lá e acolá
Um vôo,
Um pouso,
Um pio

Algo que balança
E desabrocha
E conduz
E zumbe e lambe

O redondo
E o redor
Do girado
Do mundo


Rita

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Motivos?
Não há.
Apenas a sensação
de estar
como um peixe,
num limite
transparente
de ser alguém
que deseja,

apenas.
Puro desejo.

E se diz:
"a gente não sabe
o lugar certo
onde colocar
o desejo..."

Vazio

como o espaço,
como as estrelas,
como tudo
querendo ser nada
e nada

querendo ser tudo.

Não se ama algo ou alguém.
Ama-se amando.
Ama-se amar.

rita

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009


Havia folhas sobre as águas
Eram folhas acobreadas

De longe, pareciam como um tecido que flutuava
Mas eram apenas folhas sobre as águas

Em que momento se lançaram?
Quando foi que se desprenderam do galho que as sustentavam?

Eram folhas que flutuavam todas juntas
Como se ainda pertencessem ao galho

E flutuavam juntas, ao sabor da maré
Tinha até um caranguejo que nadava entre elas

Incríveis essa folhas que flutuavam juntas e que, aos poucos
Foram se desprendendo uma das outras

E eu me pego aqui pensando sobre a dança
De algumas folhas sobre as águas

rita/jan/bahia/09

sábado, 31 de janeiro de 2009

sabor da vida


Até quando
A decepção?
É necessário
Sair dessa
Roda da decepção
Sair desse alvo
De esperar tanto
E cumprir tanto
Esperar e cumprir
Como as batidas do relógio
Esperar e cumprir
O que esperam de mim
Cumprir e esperar
Pelo que o outro
Pode me dar
Quero
Sair
Descumprir
Desistir
Apenas me entregar
Ao sabor da vida
Rita/no final do 08